terça-feira, 23 de agosto de 2011

Erotismo e Pornografia na Literatura


A literatura erótica é um género com fronteiras muito indefinidas, a meio caminho entre dois géneros bem diferentes entre si. De um lado podemos situar a literatura romântica, (não no sentido histórico do termo, mas no seu significado moderno) e do outro a literatura pornográfica. É precisamente esta fronteira que é muito difícil de estabelecer.

Se caminharmos do romantismo para a pornografia, podemos apontar alguns exemplos que são autênticos “marcos” no historial deste género: “A Dama das Camélias”, de Alexandre Dumas Filho é sem dúvida uma bela história de amor.
Comecemos por referir dois exemplos extremos: o erotismo que encontramos em Margueritte (Dama das Camélias) serve apenas para ilustrar o retrato social da época e a força de uma paixão avassaladora. No livro “Mulheres” de Charles Bukowsky encontramos precisamente a fronteira com a pornografia: aí, as descrições nuas e cruas do acto sexual, a depravação explícita e uma linguagem francamente obscena anunciam a pornografia, paredes meias com a biografia do autor.
O “Trópico de Câncer, de Henry Miller é considerado por muitos como o exemplo típico da literatura erótica e foi mesmo considerado pornográfico na época em que foi escrito. Na verdade nada há de mais falso do que esse pressuposto. Muitas vezes, o carimbo de “erótico” é usado com fins comerciais. Este tem sido um livro vítima dessas estratégias. Trata-se de uma profunda reflexão sobre a existência humana. Considero-o um livro mais filosófico do que erótico.
E agora, aquela que é, na minha opinião a obra-prima da literatura erótica: “O Amante de Lady Chatterley”, de D. H. Lawrence. O que este livro tem de genial é o facto de enquadrar na perfeição o erotismo nas emoções reais da vida humana. O erotismo como expressão de sentimentos, de emoções e não apenas de instintos; um erotismo intenso mas explicável, digamos assim; perfeitamente enquadrado no contexto social da época e na real dimensão dos sentimentos humanos.
Neste como noutros géneros literários, podemos dizer que um bom livro é aquele que se enquadra na vida. Ou, como diria Oscar Wilde, no qual a vida se enquadra. É por isso que considero este livro como uma verdadeira obra-prima da literatura mundial.

Viva a Literatura Fantástica

Muitas pessoas, a começar por alguns críticos literários, têm vindo a exprimir opiniões muito críticas relativamente àquilo a que se convencionou chamar literatura fantástica. No entanto, tais críticas parecem esquecer duas ideias fundamentais:
1- Há grandes nomes da literatura mundial ligados a este género.
2- Valorizar e divulgar este tipo de livros é um enorme contributo para a promoção da leitura entre os jovens.
Explicitando:
1- Muito dos críticos deste género esquecem nomes como Júlio Verne, Edgar Allan Poe, Tolkien ou Lewis Carrol que são nomes universalmente consagrados. Muitas vezes, não só neste campo como em muitos outros, toma-se a parte pelo todo e pega-se em exemplos extremos, como os livros sobre vampiros tão em voga, e extrapola-se para todo o universo, tão vasto e rico, da literatura fantástica. Em todos os géneros há bons e maus livros e não podemos condenar “O Senhor dos Aneis” ou os contos de Poe por alguém os ter metido no mesmo saco que as mais vulgares estórias de faca e alguidar.
2- As pessoas que criticam este género literário são, muitas vezes, as mesmas que choram lágrimas de crocodilo porque em Portugal se lê pouco. São, por exemplo, os professores e políticos ligados à educação que se lamentam da falta de hábitos de leitura dos nossos jovens e depois vêm condenar este tipo de livros. Então em que é que ficamos? Vamos obrigar os jovens a ler Camões ou Eça de Queirós? Ou vamos dizer-lhes que mais vale jogar nas Play-Station?
Na minha terra costuma dizer-se que não se caçam moscas com vinagre. Se queremos incentivar a leitura, deixemos os nossos jovens ler R. R. Martin, Tolkien, Zimmer Bradley ou o que eles quiserem.
E, já agora, dirigindo-me aos críticos: já experimentaram ler algum destes autores?

Portugal e Brasil - uma Língua, uma Pátria


Só não uso ainda o novo acordo ortográfico por mero comodismo; passa-se o mesmo fenómeno que em 2001 (salvo erro) com a introdução da nova moeda, o euro. Podendo usar os velhinhos escudos, a maioria de nós continuou nos seus cómodos hábitos de fazer contas em “moeda antiga”.
No entanto, sem ser um fervoroso adepto do novo acordo, reconheço os seus méritos que, na minha opinião, suplantem os defeitos. Dizem os detractores portugueses que este acordo é uma submissão aos interesses brasileiros. E daí, pergunto eu?
Em Angola há 19 milhões de pessoas falando português; em Moçambique são 20 milhões; Cabo Verde, Guiné Bissau e S. Tomé e Príncipe, em conjunto, rondam os 2 milhões; no Brasil há 190 milhões. No total, estamos perante cerca de 231 milhões de pessoas a falar português. Em Portugal somos 10 milhões, ou seja uma ínfima minoria!
É evidente que se podem evocar razões históricas para a tentativa de preservar o português original; mas nem o novo acordo põe em causa as raízes históricas da língua nem o passado deve ofuscar a realidade presente.
Acresce a esta situação uma outra realidade que devemos ter em conta: a língua portuguesa tem muitas dificuldades em afirmar-se na Europa, com consequências que já abordei num post anterior. Isto acontece por se tratar de uma língua difícil, com regras muito pouco comuns a quem tem como língua mãe o francês ou o inglês. Ora o português do Brasil tem tendência para simplificar a língua, ao contrário do português de Portugal; isto só nos pode trazer vantagens pois facilitará o contacto com as outras línguas.
Em suma, posso dizer que o novo acordo ortográfico é um passo em frente não só na simplificação da nossa língua como também na uniformização de uma grande pátria que é, no dizer do poeta, a língua portuguesa.

Jorge Amado e o Prémio Nobel


Jorge Amado é um dos escritores de quem se diz ter merecido um prémio Nobel da literatura. As razões pelas quais nunca o obteve não são, a meu ver, muito difíceis de explicar. Se, por um lado, ele é vítima da pouca atenção que a língua portuguesa merece na Europa, também não deixa de ser verdade que a sua escrita é demasiado “popular” para os gostos da academia sueca.
Parece ser já uma verdade universal que o prémio Nobel se dirige preferencialmente para escritores pouco populares. A escrita reflexiva é preferida ao estilo descritivo; a dimensão filosófica é mais apreciada que o impacto da escrita na realidade social; as implicações ideológicas são mais importantes que a leveza do humor; a inovação é valorizada em relação ao sucesso editorial. E, se repararmos bem, os livros de Jorge Amado têm como pontos fortes precisamente os dados da equação que enunciei em segundo lugar: estilo descritivo, com forte impacto na vida social da sua época, um humor delicado e ao mesmo tempo eficaz, tudo isto combinado com um tremendo sucesso de vendas.
Podemos dizer, correndo o risco do simplismo que Jorge Amado é demasiado popular para obter um Prémio Nobel.
Muitas vezes se discute esta questão, mas há um pormenor que por vezes esquecemos: o prémio Nobel só é atribuído em vida e, por outro lado, só ocorre uma vez por ano, o que torna impossível abarcar todos os grandes escritores de sucesso. O mesmo ocorreu com grandes génios da literatura mundial como Kafka, Tolstoi, Musil, Wolff, Joyce, Conrad ou Gorki. O que quero dizer com isto é que o Nobel está longe de ser a marca distintiva de um génio literário. E Jorge Amado há muito tempo que é um dos maiores génios de sempre da literatura mundial.

O Romance Histórico


O romance histórico é um género que, à partida, parece obedecer a uma regra muito simples: partir de um “esqueleto” retirado da verdade histórica cientificamente aceite e envolvê-lo em tramas ficcionais que lhe confiram um aspecto atractivo e ao mesmo tempo credível. Ou dito do forma mais simples: “embrulhar” a realidade num contexto ficcional.
Se a receita é simples, já a sua execução se torna bem mais complicada e daí resultam numerosos equívocos. A proliferação de maus romances históricos tem a ver, na minha opinião, com aquilo que acontece na culinária: por vezes exagera-se num ingrediente da receita e o resultado é catastrófico. O segredo parece ser dosear na medida certa os ingredientes. E eles são, tão só, a verdade e a ficção. O exagero na ficção adultera a verdade histórica e confere inverosimilhança ao enredo. Por outro lado, o exagero no relato histórico retira interesse literário à obra.
Como definir então um bom romance histórico? Certamente não basta esse equilíbrio para que a obra tenha qualidade. Além da necessária imaginação do autor para criar um enredo envolvente e com incerteza no desfecho (suspense) é necessário evitar os anacronismos e adequar o mais possível a linguagem à época em que se situa o enredo.
Por tudo isto, julgo que só na aparência se trata de um género fácil. Aliás não são muitos os grandes escritores que obtiveram sucesso neste género. Destaco três deles como verdadeiros mestres do Romence histórico: Walter Scott, que foi o verdadeiro pioneiro do género, com o maravilhoso “Ivanhoe”, Leon Tolstoi com “Ana Karenina” e essa obra-prima da literatura mundial que é “Guerra e Paz” e o nosso contemporâneo Umberto Eco com três romances que considero exemplares: “O Nome da Rosa”, “Baudolino” e “O Cemitério de Praga”.