sábado, 10 de setembro de 2011

Carlos de Oliveira, Uma Abelha na Chuva

Esta obra de Carlos de Oliveira é uma das mais importantes da Literatura Portuguesa do século XX. Infelizmente a sua divulgação não corresponde à sua importância. Talvez os motivos ideológicos ajudem a explicar este fenómeno.
A verdade é que “Uma Abelha na Chuva” é talvez o mais importante testemunho do neo-realismo português. Esta corrente literária, onde pontificaram Alves Redol e Soeiro Pereira Gomes (para citar só os mais conhecidos) teve uma importância fundamental na literatura portuguesa contemporânea, nomeadamente em escritores marcantes como José Saramago e Vergílio Ferreira. Se atentarmos aos primeiros sucessos literários destes autores (“Levantado do Chão” e “Vagão J”, respectivamente, o que aí encontramos é o mesmo neo-realismo de Carlos de Oliveira.
É apenas um lugar-comum relacionar-se o Neo-realismo com as condições políticas e sócio-económicas da ditadura salazarista. Mas é muito mais que isso, como o comprova este livro.
A alienação das personagens, a miséria física e espiritual, a revolta latente, não são emoções derivadas apenas do contexto; são partes integrantes da alma humana, qualquer que seja o seu contexto. A relação conjugal de Álvaro Silvestre e Maria dos Prazeres, por exemplo, é uma espécie de terreno de batalha onde se confrontam as paixões humanas no seu todo e não as circunstâncias de um tempo definido.
Por outro lado, todo o simbolismo que a obra envolve fazem dela um testemunho artístico intemporal: a abelha como o elemento desintegrado do enxame social; a chuva como símbolo da agressividade; e os nomes – Silvestre, agreste, inculto, selvagem e Marias dos Prazeres, no entanto apenas os prazeres que advém da mente…

1 comentário:

  1. Por acaso fez parte do programa do liceal, logo a seguir ao 25 de Abril, li-o nessa altura, no que corresponde hoje ao 10º ano. E aí confesso que não reparei na corrente literária nem no simbolismo, que possivelmente foram referidos nas aulas! :)

    Também tem filme, mas esse era uma grandiosa seca!

    ps - sorry a confusão da actriz em relação ao "Monte dos Vendavais", devia ter confirmado! ;)

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