quarta-feira, 24 de agosto de 2011

O tom negro dos escritores portugueses

António Lobo Antunes, Valter Hugo Mãe, José Luís Peixoto e João Tordo são, na minha opinião, quatro dos melhores escritores portugueses da actualidade. E penso não ser o único a pensar assim. 
Há, a meu ver, algo que os une, para além dos magníficos dotes literários: é a tendência para a abordagem de temas sinistros, numa autêntica escrita a negro que se evidencia, por exemplo, em Uma Casa na Escuridão, de JLP, Ontem não te Vi em Babilónia de ALA, O Livro dos Homens sem Luz de JT e O Remorso de Baltasar Serapião de VHM.
Porquê esta tendência para o sinistro, para o pessimismo, na actual literatura portuguesa? Terá isto a ver com o carácter do povo português? Eu penso que sim. Um escritor é sempre um reflexo da contexto socio-cultural em que vive. Vivemos tempos difíceis no nosso país mas não é só a famigerada crise que nos faz assim negros e pessimistas; é algo no nosso carácter que nos faz ver a vida sob a cor escura das nossas lentes.
Veja-se, por comparação, o optimismo da literatura brasileira; a leveza de um Jorge Amado, o encanto de um Erico Veríssimo ou a fantasia de um Machado de Assis; comparem-se também os nossos lúgubres mestres com a literatura africana de expressão portuguesa; com a leveza e graça de Ondjaki, com a fantasia e criatividade de Mia Couto ou com a imaginação de Agualusa. Em Angola ou Moçambique não se vivem dias melhores que em Portugal; no entanto, nós cultivamos o saudosismo, a melancolia, a tristeza.
Note-se que não quero com isto desvalorizar os escritores portugueses em causa. por pregarem a tristeza não deixam de ser génios. Grandes génios, aliás, de que nos podemos orgulhar.

1 comentário:

  1. Bom, dos escritores portugueses mencionados só li José Luís Peixoto, recentemente, e não achei os livros assim tão tristes ("O Livro" e "Cemitério de Pianos"), portanto nem me posso pronunciar.

    Mas concordo que há uma maior leveza na literatura brasileira e angolana, de um modo geral. Será que é a tendência dos portugueses para o pessimismo e a tristeza do fado? Interessante, este post... :)

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